O nome do treinador Lucas Sinóia foi o que mais soou ao longo do ano de 2022 no panorama desportivo nacional, pois como Seleccionador Nacional de boxe teve a espinhosa missão de indicar os atletas e orientá-los para que alcançassem medalhas ao nível regional, africano, mundial e intercontinental.
Por Alfredo Júnior
Por detrás das medalhas conquistadas pelo pugilismo moçambicano ao longo do ano que caminha a passos largos para fim, está um homem que sempre se manteve sereno, longe dos holofotes e confiante no seu trabalho que deixou Moçambique inteiro orgulhoso. Daí que não foi difícil que uma equipa do LanceMZ o elegesse como a figura desportiva do ano 2022, dado o seu trabalho abnegado e muitas vezes não reconhecido por quem de direito.
DO TÍTULO REGIONAL AS MEDALHAS MUNDIAIS
Logo depois de ter participado com as pugilistas Alcinda Panguana e Rady Gramane nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, prova que decorreu no ano passado, Sinóia continuou o seu trabalho de forma discreta no ginásio da Escola Secundária Francisco Manyanga, tendo em vista o Campeonato Regional de Boxe da Zona IV que depois de vários adiamentos teve lugar em Maputo. Os pupilos de Sinóia conquistaram o título de campeão absoluto da região Austral de África ao vencerem 16 medalhas, sendo sete de ouro, cinco de prata e quatro de bronze, isto em Abril de 2022.
Em Maio, Sinóia orientou as duas melhores pugilistas nacionais da actualidade no Campeonato Mundial decorrido na Turquia, tendo surpreendido o mundo ao conduzir Alcinda Panguana a conquista da medalha de prata e Rady Gramane à medalha de bronze feitos nunca antes conseguidos por atletas da região Austral de África.
Em Agosto do presente ano, coube novamente a Lucas Sinóia a missão de escolher os pugilistas que deveriam representar o país nos XXII Jogos da Commonwealth que decorreram em Birmingham, na Inglaterra, tendo seleccionado seis atletas, pois para além das mundialistas trabalhou durante quase um mês com os pugilistas Tiago Muxanga, Armando Sigauque e Helena Bagão.
O resultado deste trabalho foi a conquista de duas medalhas de prata (Rady Gramane e Tiago Muxanga) e uma de bronze (Alcinda Panguana) fazendo com que Moçambique não saísse de mãos a abanar e estivesse próximo daquela que foi a melhor prestação de sempre na prova através de Lurdes Mutola que na sua época dominou os jogos anglófonos.
CONQUISTA DE ÁFRICA EM SOLO PÁTRIO
Com pouco tempo de trabalho, Lucas Sinóia voltou a merecer a missão espinhosa de seleccionar e preparar o combinado nacional que deveria honrar o país no Campeonato Africano de Boxe que foi atribuído ao país em Agosto para que acolhesse o evento continental em Setembro do mesmo ano.
Sem virar a cara à luta Lucas Sinóia conseguiu orientar e colocar os pugilistas Alcinda Panguana (66-70 kg), Rady Gramane (70-75 kg), Yassine Nordine (47-48 kg), Armando Sigauque (54-57 kg) e Albino “Solomone” Gabriel (80-86 kg) no topo de África, ao conquistar cinco medalhas de ouro em solo pátrio levando com que África ficasse rendida ao potencial da nobre arte praticada em Moçambique. Para além das cinco medalhas de ouro há a destacar duas de bronze, conquistadas por Helena Bagão e Paulo Jorge Brito.
É obra que leva o nome de um dos treinadores mais cotados ao nível do continente africano, Lucas Sinoia que sem grandes condições conseguiu preparar verdadeiros guerreiros que se tornaram pela primeira vez campeões africanos e que tem como meta chegar aos Jogos Olímpicos Paris 2024 caso tenham o devido apoio para a sua preparação.
Quem é Lucas Sinóia: da serenidade à violência nos ringues!
Lucas Sinóia nasceu a 22 de Março 1966, na pacata vila de Mutarara, província de Tete, onde deu os primeiros passos no mundo desportivo, praticando ocasionalmente futebol, tal como os menininhos da sua época, mas nunca sonhou ser profissional.
Ainda menino rumou para a cidade da Beira e, posteriormente, para Maputo, onde viria a nascer a decisão de praticar a nobre modalidade dos punhos, aos 17 anos. A paixão pelo boxe foi tanta que lhe obrigou a se concentrar mais nesta modalidade do que propriamente nos estudos. Aos 18 anos estreou-se no ringue. Um ano depois teve a primeira internacionalização, isto é, com 19 anos, em Angola.
Daí para frente representou o país em várias competições regionais, africanas e mundiais, tendo no seu palmarés uma medalha de bronze nos Jogos Africanos do Quénia. Sinóia esteve em dois Jogos Olímpicos, concretamente em 1988 em Seul e 1996 em Atlanta. Ficou afamado no pugilismo moçambicano como o “Rei do KO”s”, pois a 25 de Junho de 1991, nos Jogos Africanos do Cairo precisou de apenas 30 segundos do primeiro assalto para derrotar por KO a um pugilista do Gana que não resistiu ao poderio dos seus golpes.
O seu boxe é uma miscelânea da escola soviética, cubana e americana que o levaram a ser um dos melhores pugilistas moçambicanos de todos tempos, conhecimentos que tem transmitido através da Academia Lucas Sinóia que tem produzido muitos talentos para a modalidades que ao longo dos anos tem representado também o Matchedje de Maputo.
De estatura baixa (1.76 metros), calmo, sereno, avesso a zaragatas, pouco falador e pronto para fazer bons amigos Sinóia tem sido uma figura longe de protagonismos, deixando o seu trabalho falar mais alto, tal como o fez enquanto atleta em que na calada distribuía “KO” aos pugilistas incautos que aparecessem pela frente. Parco em palavras, mesmo quando está a orientar as suas pupilas em pleno combate, é no trabalho árduo que se concentra para elevar a qualidade dos seus atletas (LANCEMZ)