Um veterano com apetite de novato. Mesmo com poucos jogos pela seleção de Moçambique, Pepo Santos já mostrou que pode ser um dos destaques da campanha histórica dos Mambas nas eliminatórias africanas para a Copa do Mundo da FIFA 26™ . Ele estreou pela seleção em 2024 e agora, aos 31 anos, o caçador nascido em Portugal vive um momento especial com a camisa moçambicana — país de origem de sua mãe — e celebra a oportunidade tardia unindo o melhor dos dois mundos: a maturidade e o frescor da novidade.
Por FIFA.COM
Em Março de 2025, contra Uganda, ele foi a estrela da vitória por 3 a 1 com dois golos bonitos (um deles olímpico, ou seja, uma bola saiu do escanteio batido por ele e caiu dentro da baliza) e uma assistência.
A derrota para a Argélia na jornada seguinte foi dolorosa, é claro, mas Moçambique está apenas três pontos abaixo dos argenlinos (líderes do Grupo G da CAF) e ainda pode se qualificar para a Copa do Mundo de forma direta se ficar com a primeira posição.
Além disso, há também a possibilidade de encerrar a campanha na segunda posição e disputar o Torneio de Repescagem da FIFA com selecçoes de outras confederações continentais. Nada está perdido, e Moçambique continua em busca de algo histórico. Na verdade, em entrevista à FIFA , Pepo disse com certeza que os Mambas já estão fazendo história até aqui.
UM ORGULHO JOGAR A QUALIFICAÇÃO
FIFA: Qual é a sensação de jogar uma eliminatória da Copa do Mundo?
Pepo: É uma sensação incrível. Infelizmente, na minha carreira, nunca tinha jogado nesse patamar antes. Enfrentar jogadores com tanta qualidade foi óptimo, um orgulho imenso.
Você acredita que Moçambique estará na Copa do Mundo do FIFA 2026?
Sabemos que as contas ficaram mais difíceis com a derrota para a Argélia. Mesmo assim, ainda pensamos no primeiro lugar. Todas as equipes ainda podem deslizar. Vamos tentar aproveitar os deslizes. Se não, lutaremos para estar entre os melhores segundos apresentados e ir para a repescagem. Acreditamos que vamos conseguir.
O elenco moçambicano conversa sobre o sonho de qualificar o país para a Copa do Mundo?
Falamos, claro, sobre o sonho de ir ao Mundial. Faremos de tudo o que estiver ao nosso alcance. Mas também temos a noção de que o que já fazemos é histórico para Moçambique e estamos muito orgulhosos do percurso.
SENTIMENTO APÓS GOLO OLÍMPICO
Que sentimentos passaram pela sua cabeça ao fim do jogo contra Uganda?
Sinceramente, a sensação ao fim do jogo foi de que tivemos a mesma chance de ir para a Copa do Mundo. Quero muito pisar nesses palcos, e ajudar com golos é uma sensação incrível. O que passou pela minha cabeça foi realmente que podemos nos qualificar.
E um golo olímpico directamente do pontapé de canto! Foi intencional?
O golo foi intencional, sim. O guarda-redes estava muito fora da baliza, e eu aproveitei o facto de que havia muito vento a meu favor.
Você já havia marcado um golo olímpico antes?
Sim, eu já tinha feito um golo de canto olímpico quando joguei pela União de Leiria – e foi filmado, tenho provas! [ risos ] Já tentei mais vezes e agora tive uma espécie de conseguir de novo.
E foi também uma óptima assistência para Ratifo. Você considera mais um definidor de jogadas ou um criador?
Se você tivesse que escolher uma resposta, diria que seria mais um definidor de jogadas. Mas também gosto muito de dar assistências – aliás, tenho até mais assistências do que golos. Gosto muito de dar golos para os meus colegas.
Pepo diz ter chegado aos Mambas no momento exacto para ajudar Moçambique
Aos 31 anos, Pepo mostra-se orgulhoso por representar Moçambique, terra de nascimento da sua mãe. O médio fala da sua relação com Chiquinho Conde que apostou em si para vestir finalmente a camisola de Moçambique, depois de ter falhado essa oportunidade quando mais novo.
Você nasceu em Portugal, mas decidiu representar Moçambique. Como foi o momento em que recebeu o convite da seleção?
Eu já tinha sido convocado quando tinha 25 ou 26 anos. Na época, por questões pessoais, acabou por não acontecer. Passados os anos, as conversas foram se fechando. Depois, chegou de novo quando eu já estava nas Caldas, com 30 anos. O convite voltou a aparecer no momento certo.
E como são suas conversas com Chiquinho Conde (treinador de Moçambique) sobre o seu papel na equipa?
Sempre foram muito frontais, muito abertas. Meu papel ficou sempre muito óbvio, que era mais um para ajudar a selecção a atingir os objetivos. A verdade é que a seleção de Moçambique já tinha crescido muito antes da minha chegada, já tinha ido ao CAN (Copa Africana de Nações, da CAF) e estava com bons resultados. Meu papel era ajudar.
Você diria que tem a vantagem da experiência junto com o apetite de um novato?
Já cheguei à seleção mais tarde, apesar do convite quando era mais novo. Na verdade acho que foi quando tudo fez sentido. Sinto que estava realmente preparado para os jogos. A ambição é a mesma de quando era mais jovem.
ORGULHO PARA MÃE E TIOS NASCIDOS EM MOÇAMBIQUE
Qual é a história do lado moçambicano de sua família?
Ai vem ligação da parte da minha mãe. Ela e os irmãos dela nasceram todos lá em Moçambique.
Os meus avós maternos moraram em Moçambique; depois que meu avô faleceu, minha mãe e os irmãos foram para Portugal com a minha avó. Ela viveu em Moçambique nos primeiros anos de vida. Principalmente na parte da minha mãe, os meus tios têm um orgulho enorme por terem nascido em Moçambique. O fato de me verem actuando pelos Mambas, para eles, é um orgulho muito grande.
Crescendo em Portugal, o quanto a cultura moçambicana estava presente no seu dia a dia?
Acredito que tenha moldado a personalidade da minha mãe em aspectos como a humildade, a forma de ver as coisas, e isso passou para mim. É onde eu posso dizer que a cultura moçambicana esteve presente no meu dia a dia, os valores da minha mãe.
Além do futebol, há uma missão maior em representar Moçambique como forma de honrar suas raízes?
Sem dúvida, vai muito além do futebol. Para a minha mãe e os meus tios, não importa o resultado. É claro que será óptimo se eu ganhar e as coisas correrem bem, mas a verdade é que só o facto de eu ter sido chamado para representar Moçambique foi um orgulho muito grande para todos nós.
A representar também um país que merece muito ser feliz. Por tudo que o país passou e ainda passa, poder ajudar e contribuir dessa maneira com a alegria do futebol é uma sensação incrível. (LANCEMZ)