Os “putos” da minha geração devem lembrar-se de um filme cativante que nos convertia em heróis, enquanto nos deixávamos enganar por toda a ilusão colorida que enchia a grande tela e preenchia o nosso universo ainda cru de referências.
Por: Henrique Aly – Jornalista da SuperSport
Grande parte da trama passa-se na estrada e envolve camiões e camionistas que parecem calcorrear quilómetros de asfalto sem um destino provável; afinal o grande propósito do filme é mesmo esse: manter-nos na estrada do princípio ao fim e entreter-nos com os malabarismos audio-visuais básicos da época que, ainda assim, nos arrebatavam e proibiam de questionarmos o epílogo.
Bem, nem sempre as analogias são lineares e explícitas, mas permiti-me ser algo enigmático para saudar o regresso da maior festa do futebol na terra das acácias – o MOÇAMBOLA voltou e com ele vieram todas as coisas boas e más que o tornam irrepetível, goste-se ou não dele; um autêntico comboio dos duros.
Dos 12 clubes inscritos na prova, sobram dúvidas sobre quantos terão cumprido integralmente com os requisitos de um licenciamento que passou de imperativo a subjetivo.
A inspeção aos recintos que albergarão os 132 jogos da prova não terá ficado encantada com o visual de alguns balneários e sanitários públicos que reclamam por mais carinho e, salvo algumas novidades, há pisos que são mesmo só para pisar.
É claro que temos o dever patriótico de aceitar que “quem não tem cão, caça com gato” e não é pelas carências, sobretudo materiais e de infraestruturas, que privaremos o povo do seu ópio. Grave é continuarmos a alimentar o imaginário desse povo que, não é estúpido, com as habituais projeções de uma grandeza fictícia que, infelizmente, é rebatida em todas as pré-eliminatórias das Afrotaças, onde os clubes saídos deste MOÇAMBOLA gatinham em vez de correr...
A festa do campeonato nacional trouxe coisas BOAS: os 6 jogos da jornada inaugural produziram 16 golos, quase uma média de 3 por jogo, algo que tem rótulo de raro entre nós - vale a pena enfatizar e desejar que se repita por muitas e longas jornadas. O contraponto terá sido a arbitragem polémica (ou polemizada) num jogo entre campeões que tinha tudo para fazer boa publicidade de uma prova que se pretende decente. Pior mesmo foi o desabafo de um treinador que, ao leme do histórico primeiro campeão nacional de Moçambique, endossou responsabilidades da derrota à direção do clube, lembrando-nos um velho ditado: “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Por sinal até houve pão, mas faltou manteiga...
Pois é; o MOÇAMBOLA é tudo menos uma brincadeira de crianças – é uma viagem por 22 sinuosas jornadas, só a altura de homens de barba rija.
Aqui da bancada virtual resta-nos desejar que cada jogo seja uma festa regada com verdade desportiva e que, no fim, nada impeça o meu estimado MADODA Simango Jr de entregar cada milhão dos cinco prometidos ao campeão.