60% - 40% - num jogo de futebol esta estatística pressupõe que uma equipa tem o domínio e controla melhor os processos, enquanto a outra joga na expetativa e no possível erro do adversário. Às vezes os dados da posse de bola são contrariados pelos níveis de eficácia e a equipa com menos posse pode ganhar o jogo, pelo mísero placar de 1-0 que seja. Mas a sorte tem as costas curtas...
ANÁLISE DE HENRIQUE ALY
Ao fim de três debates televisivos entre os candidatos à presidência da federação moçambicana de futebol, o mais recente deles a dois dias das eleições (se acontecerem como está previsto), fico com a sensação de que Feizal Sidat, em busca da sua própria sucessão, está nesta altura com 60% de vantagem e, por exclusão óbvia de partes, cabem a Namoto Chipande, o outro candidato, os restantes 40%.
Desde as repetidas queixas de sabotagem do processo de aceitação da sua candidatura ao incansável apelo para que se cancelem as eleições (estou em crer que a sugestão é para as mesmas serem adiadas e não canceladas) vejo um Namoto cordeiramente cordial, a exercitar um excelente e sempre bem vindo discurso conciliatório da família do futebol, mas a usar os 40% para jogar no seu meio-campo defensivo, sem esboçar qualquer tentativa de progredir em direção à baliza contrária para surpreender o adversário – uma postura civilizada que aplaudo, mas permite ao rival o controlo total do jogo; parece uma daquelas eliminatórias em que a um basta empatar para transitar à fase seguinte e ao outro só resta a alternativa de ganhar.
Estou suficientemente convencido de que as eleições para a presidência da FMF decorrem numa plataforma de pouca clareza regulamentar, o que agudiza a suspeição de algum favorecimento ao atual timoneiro, mas em nenhum momento conseguiram convencer-me, com factos, que Feizal Sidat cometeu alguma ilegalidade ou prevaricação e quanto mais Namoto permite que o seu oponente, com a anuência dos moderadores dos debates, monopolize o tempo de antena para repisar os seus feitos e glorificar o seu consulado, menos o próprio Namoto aproveita o exíguo tempo de que dispõe para, com clareza, apresentar ao público em que bases essenciais assenta a sua estratégia de gestão para corrigir o rumo do futebol moçambicano.
Parece simples; se um se gaba da sua trajetória, o outro deve ripostar desvendando o que tem na manga, para permitir que, para além dos “onze magníficos” que supostamente votam em nome das respetivas associações provinciais, a família do futebol aprecie e avalie o que tem a oferecer; é que mesmo não tendo poder de voto, a grande família do futebol pode influenciar as tomadas de decisão.
Remetendo-se ao secretismo sempre que é chamado a partilhar rascunhos que sejam do seu manifesto, Namoto quase marca na própria baliza, contra um adversário a quem basta um 0-0...
No fundo, Namoto, com muitos anos de inserção nos meandros da federação, parece acreditar (ainda) no mundo perfeito, baseado em regras escrupulosamente cumpridas e onde se prima pelo rigor e pela transparência. Mal dele - faz tempo que o futebol moçambicano deixou de ser para bons rapazes...