desporto mocambicano

Henrique Aly escreve sobre a ida de Moçambique a Benguela: SER OU PARECER, eis a (velha) questão

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A seleção masculina de basquetebol de Moçambique terminou em 2º lugar num torneio promovido recentemente pela federação angolana que para além de equipas nacionais locais contou com a presença de Cabo Verde. 

 

Previsivelmente, em Moçambique, quase todo o debate sobre o torneio de Benguela centrou-se nos habituais, contraproducentes e extenuantes conflitos intestinais e restou tempo zero para se fazer uma avaliação lúcida, objetiva, desapaixonada e CONTEXTUALIZADA da prestação dos atletas.

Infelizmente a crónica mania das grandezas impede-nos de reconhecermos que no quadro atual, são SIM 50 PONTOS que separam a seleção A de Angola, onze vezes campeã africana, de uma seleção moçambicana constituída por 10 jogadores que militam no (des)campeonato doméstico (uma Liga organizada anualmente com a duração de três semanas, com meia dúzia de jogos para cada equipa). Detalhe: a época, ainda a nível de cidade, arrancou oficialmente UMA SEMANA ANTES do torneio em Benguela. A base da seleção angolana é o Petro de Luanda, vice-campeão africano de clubes, na mesma competição em que o Ferroviário da Beira, representante de Moçambique, ficou na fase de grupos...

A nossa arrogância impele-nos a desdenhar um triunfo, no torneio de Benguela, sobre Cabo Verde que ocupa a posição número 74 do ranking da FIBA (Moçambique? Deixem-me procurar... ah, 98º...) e sobre uma equipa B de Angola que, HOJE, compete de “peito aberto” contra o melhor combinado nacional moçambicano.

Não esvazio a importância de se “bater” na FMB por falhas grosseiras de organização que levaram à exclusão de 2 dos 12 atletas selecionados e por um deles ter passado pela humilhação de regressar no aeroporto. Foi MAU; tanto quanto o selecionador nacional ter sido descasado do seu adjunto, ou a ausência de um médico na delegação. Têm todos, os que o fazem com intuíto construtivo, o direito de “repreender” o elenco de Roque Sebastião por essas falhas, algumas recorrentes.

MAS, inquieta-me que não se evolua; que o cerne de toda a discussão sejam os problemas e não as soluções; há um RESULTADO DESPORTIVO a escalpelizar porque dele podem tirar-se lições e ilações. Parece-me tremendamente injusto e leviano que o desempenho de uma equipa, que ganhou a 2 de 3 adversários melhor apetrechados, seja marginalizado em favor de uma autêntica parlação sobre TRÊS dirigentes (presidente da federação, vice e coordenador da delegação) que por artes mágicas da pérola do ìndico se transformaram em METADE da delegação de 16 pessoas e, por isso, usurparam as poltronas do avião que estariam destinadas a mais 2 jogadores e aos ausentes já aqui mencionados.

Amigos, na pátria amada, já vivenciamos situações aberrantemente piores!

Continuamos na mesma... MESMICE – será por sermos todos doutorados em leite derramado e não “pescarmos patavina” sobre como se produz leite?

Assusta-me que, como sociedade crítica, estejamos formatados; criticamos apenas o que nos convém – ninguém exerce esse papel vigilante de forma tão veemente quando as causas são de índole social e de massas - e no desporto, agora no basquetebol em particular, perdemos a oportunidade de ampliarmos o campo da crítica que nos permitiria sermos mais visionários e produtivos até mesmo com a “papinha feita”.

Para quem não sabe ou não se recorda, o 2º lugar da seleção masculina no torneio angolano surge cerca de duas semanas depois de 3 internacionais moçambicanas (uma no Interclube e duas no 1º de Agosto) terem sido protagonistas na Final da Supertaça angolana de basquetebol feminino, lá em Angola!

Não sou nenhum iluminado! Conseguem ver e PERCEBER o mesmo que eu? 

No meio de tudo o que está MAL no basquetebol moçambicano (e em alguns casos péssimo), ainda existe MATÉRIA para discussões relevantes e debates inteligentes que nos permitem pensar, estudar, elaborar, dimensionar, projetar e implementar medidas sustentáveis de reversão do quadro atual. Mas isso logra-se apenas quando há coerência e as metas pessoais se rebaixam ao interesse coletivo, ao desígnio nacional, à CAUSA COMUM.

Vamos falar mais do jogador bom e menos do dirigente supostamente mau; mais do treinador competente e menos de quem se omite na sua valorização. A verdade e a fraude são sempre devendadas pelo tempo. 

Este campeonato de umbigos não nos qualifica para nada; faz-nos retroceder continua e cruelmente. Mantém-nos naquela plataforma ilusória onde nos sentimos os maiores do mundo, ali onde parecemos mais do que somos.

#MboraTrabalhar

Henrique Aly - (Jornalista SuperSport)

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